26 abril 2012

Pode entrar, pode ir.



Anos que eu vivo nessa casa. Pequena, sem luz e com apenas uma cama (é só que a gente precisa né?). O único jeito de a luz solar entrar é a porta que passou todo esse tempo aberta. Tentei fechar e me trancar ali dentro, mas você sempre deixava uma pedra pra que ela só ficasse encostada. Sabe como foi doloroso passar esse tempo todo sozinha nessa casa? Sabe como foi doloroso ver você entrando e saindo como se a casa fosse sua? Ela não é sua, mas com o tempo me convenceu que é você que manda aqui. Os móveis são do seu jeito, a cor das paredes é a sua cor preferida e as regras é você quem dita. Já tentei fugir, já tentei te expulsar, já trouxe outros homens e não adianta, sua presença prevalece em cada canto. Você chega sem avisar e vai embora quando eu menos espero, faz de mim o mesmo que faz com a minha casa. Não precisa de chave e nem de autorização. Mas acredite mesmo vivendo sozinha, essa casa me sufocou de tão pequena. Nesse pequeno espaço só cabia eu ou a minha grande coleção de decepção. Meu limite apareceu. Apareceu quando você foi embora daquela incrível e gostosa noite. Foi tão bom que parece que a gente já sabia que eu iria para outro lugar, feito uma despedida sabe? Depois que você foi, como sempre fui tomar um banho demorado pra ver se aquele cheiro de arrependimento misturado com o seu perfume iria embora. Percebi que não era eu que cheirava mal (apesar de eu estar me decompondo a cada momento que passava com você), era os seus restos que você deixava que fedia tanto. Como eu pude fazer isso comigo mesma? Aceitar seus Olá e seus Adeus assim de forma tão fácil? Como pude amar um pedaço de nada? Como pude deixar você me invadir?
Não fui feita pra viver de restos, pra ter você em partes ou pra não ter poder sobre o que é meu. Eu sou minha. E já fui sua e você ainda sim preferiu me dividir pra não ser inteiro pra mim. Você ai vivendo muito bem fora dessa casa e eu aqui, deixando tudo do jeito que gosta pra você voltar sempre. Cansei, mudei de endereço. Não moro mais do lado esquerdo meu peito onde você mandava. Moro agora na vida, onde você nunca soube viver e é por isso que sempre corria pra minha casa, porque era mais fácil ir embora.

Um comentário:

  1. A realidade é que ninguém consegue ser feliz pela metade, tudo que é dividido machuca.

    quaseinvisivel.blogspot.com.br

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