21 dezembro 2011

Um amor quase impossível, invisível como o ar. ♪



 Respirei fundo e toquei a campainha. Ele (como sempre) abriu a porta sem camiseta e com o cabelo todo bagunçado. Ai como eu amava aquele lado relaxado dele! Olhou para minhas mãos e viu que não havia mala ali. Diferente dos outros “encontros”, eu não iria passar 48 horas no apartamento dele sem ver a luz do dia, andar na praia e só comer comida comprada. Não perguntou o porquê daquilo. Apenas deu espaço para que eu entrasse. Eu sentei no sofá. É naquele sofá onde muitas vezes nos amamos, ou só nos curtimos mesmo. Apesar da nossa relação casual, ele me conhecia. Sentou do meu lado e como sempre não disse nada. Mas, como eu tinha dirigido 72 km pra conversar eu tinha que começar a falar. Eu fui pra terminar. Só não sabia como dizer “terminar” se não tínhamos nada. Disse que se fossemos namorados aquele era o momento em que eu iria terminar com ele. Ele suspirou de um jeito que parecia que esperava isso. Mesmo assim perguntou por quê. Como se a resposta não fosse óbvia.
- Ele não merece isso.
- Você tem razão. Seu namorado não merece ser traído.
- Não é disso que eu estou falando.
Como ele sempre adorava fazer graça, sorriu e disse:
- Então ele merece ser traído?
Antes que eu me perdesse naquele sorriso malicioso dele, me recompus.
-É óbvio que ele não merece. Mas, o que quero dizer é que ele não merece eu amar outra pessoa.
E dei outra resposta óbvia. Que ele já sabia há muito tempo. Antes mesmo do “envolvimento”. Sem reação, me ofereceu um café. Eu aceitei pra disfarçar a vontade de chorar. Levantei e dei uma volta na sala, como se estivesse me despedindo do apartamento dele. Olhei a janela e vi o mar. O sol estava se pondo e mais uma vez como todas às vezes em segredo vi nosso casal de filhos correndo na praia. E antes de me perder de novo na minha imaginação ele chegou. Tomei aquele café com muita vontade, pra não esquecer aquele gosto. Porque era a última vez que ia sentir aquilo. Então ele me surpreendeu me perguntando se era sério tudo aquilo. Na hora me deu vontade de rir, ele nunca me levava a serio mesmo. Literalmente falando! Só balancei a cabeça. E soltou mais uma de suas gracinhas:
- Isso quer dizer que nunca mais vamos nos ver?
- Isso quer dizer que agora estou noiva. E quero mesmo ser feliz com ele.
-Ele te pediu em casamento?
-Sim. E eu aceitei!
Então, foi a vez dele de dar uma volta na sala e olhar a janela. Será que ele imaginava o mesmo que eu?
E pra acabar com o constrangimento, soltou mais uma de suas graças (ele adorava fazer graça, porque eu sempre ria):
- Se eu te pedisse pra ficar ?
- Você sabe que não voltaria mais pra casa. Ficaria aqui pra sempre com a roupa do corpo.
Antes que ele justificasse a graça eu disse:
- Mas, sei que você quer viver cada pedaço desse mundo. E eu não faço parte dele ou ainda não estou nos seus planos. Eu aceitei ser só “isso” pra você. Você é tudo pra mim e com certeza aparecerá outra como eu que irá adorar viver nas suas condições. Mas, você é tão a minha vida que me suga do mundo real.
Foi ai que percebi que era a hora de ir embora. Tinha acabado o assunto.
Fui até o quarto e peguei o que era “as minhas coisas”. Quando voltei, ele estava olhando a janela de novo. E reparei que ele abriu a porta da entrada, que agora era a porta do adeus. E pensei rápido: É aquela velha historia; Deixo as coisas que amo livres? Ou ele não queria prolongar o assunto, pra que eu fosse embora logo? Pra não me frustrar não escolhi nenhuma das opções. Continuou de costas mesmo sabendo que eu estava ali. Cheguei mais perto e disse:
-Você é o meu amor. Independente do resto.
Ele não disse nada. Pra mostrar que a porta ainda estava aberta e que era pra eu fechar quando saísse.
Virei-me e segui meu caminho. Antes mesmo que fechasse a porta ele perguntou:
- Serei convidado?
- Claro! Com uma condição.
- Qual?
- Que quando o padre perguntar quem é contra fale agora ou se se cale pra sempre, você aparece, me pega no colo e me seqüestra.
Ele riu. Foi a minha vez de fazer graça. Mas, ele sabia que toda brincadeira tinha um fundo de verdade.
E fui embora.
Cheguei em casa liguei pro meu futuro noivo e disse:
-Eu pensei melhor. E sim, eu aceito me casar com você!

Fui até aquele apartamento porque eu queria muito me casar com meu namorado, mas, mesmo assim queria outra coisa. Fui pra dar motivos pra ele me pedir pra ficar. Não era tudo o que eu queria. Mas, era o que eu mais queria: Casar com ele. Na praia, com um vestido de renda, uma banda de rock tocando, todo mundo descalço, nossos melhores amigos como padrinhos e de lembrança um cd com as nossas músicas favoritas.
Mas, depois de dois anos e daqui 24 horas eu vou me casar com o meu noivo. Em um salão enorme que parece um castelo, alguns padrinhos eu nem conheço. Mas, fiquei sabendo que vão usar smoking de grife. Terá um jantar fino e champanhe caro. Uma orquestra conceituada tocará a minha marcha de entrada. E mesmo tendo um vestido lindo e um casamento de princesa, eu ainda queria que o meu amor aparecesse com o seu jipe pra me levar pra longe e eu irei.

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